quarta-feira, 19 de novembro de 2014

NANOSATC-BR1 - Primeiras medidas Brasileiras do Campo Geomagnético em órbita espacial

O primeiro satélite científico Brasileiro, o NANOSATC-BR1, (NCBR1), CubeSat 1U, primeiro nanosatélite científico universitário Brasileiro, Projeto e Programa desenvolvido no âmbito da Parceria MCTI/INPE - UFSM, que foi lançado em órbita terrestre da base de lançamentos espaciais da Rússia, em Yasny, pelo lançador DNEPR, há exatos 5 meses (19 de junho de 2014), confirma previsão dos valores teóricos da intensidade do Campo Magnético Total da Terra, conforme previsto pelo modelo: “International Geomagnetic Reference Field” – IGRF da IAGA/IUGG. Uma pré-análise científica dos dados observados e coletados pelo magnetômetro de carga útil XEN-1210, em operação a bordo do NCBR1, efetuada pela Equipe Científica do Projeto NCBR1, sob a liderança do Dr. Marlos Rockenbach da Silva, no CRS/INPE-MCTI, em Santa Maria, RS, mostra uma ótima correlação dos dados observados e coletados pelo satélite NCBR1 em comparação com valores teóricos previstos para a intensidade do Campo Geomagnético para a mesma altitude com a modelagem teórica do IGRF-IAGA/IUGG.



Para exemplificar, a Figura mostra um mapa da intensidade total do Campo Geomagnético para altitude de 614km para a América do Sul, região de domínio da Anomalia Magnética da América do Sul – AMAS, mostrando que a variação espacial da intensidade total do Campo Geomagnético varia entre 24.000nT na borda e 17.000 nT no centro na AMAS. A Estação Terrena de Rastreio e Controle de Nanosatélites, ET(INPE-CRS), em Santa Maria - RS, está indicada na Figura pela estrela preta, encontrando-se  próxima ao centro da AMAS. A linha vermelha na Figura indica a órbita aproximada do NCBR1 no dia 17 de agosto de 2014, no período de 10:57h a 11:07h. Nesse período o nanosatélite científico se desloca do polo Sul em direção ao polo Norte geográfico. No lado direito da linha vermelha são apresentados os valores do Campo Geomagnético Total, em nanoteslas, calculado a partir do registro das observações coletadas das três componentes x, y e z do Campo Geomagnético feito pelo NCBR1, a 614 km de altitude. Comparando esses valores com aqueles previstos pelo modelo do IGRF-IAGA/IUGG pode-se perceber que o magnetômetro XEN-1210 do NCBR1(resolução nominal de 15 nT) além de registrar e confirmar a presença da AMAS sobre o Brasil, registra valores da intensidade do Campo Geomagnético bastante condizentes, salvo as diferenças que ocorrem devido às aproximações utilizadas pela modelagem do IGRF.

Figura - Mapa da intensidade total do Campo Geomagnético para altitude de 614km sobre a América do Sul, na região de domínio da AMAS, onde a linha vermelha indica a órbita espacial aproximada do NCBR1 no dia 17 de agosto de 2014, no período de 10:57h a 11:07h, e ao lado direito da linha são apresentados os valores da intensidade do Campo Geomagnético observados e coletados pelo NCBR1 naquela órbita.


Uma análise mais aprofundada dos dados observados e coletados pelo NCBR1 está sendo efetuada pela Equipe Científica do Projeto NCBR1, e um artigo científico está sendo redigido e logo será encaminhado para aprovação e publicação, em periódico científico internacional, com uma análise mais profunda das observações científicas e suas conclusões. Comprova-se assim a validade de uso de tais tipos de experimentos, como o do NCBR1, para a investigação de fenômenos eletrodinâmicos sobre a América do Sul. 

Mais Informações: www.inpe.br/crs/nanosat
Notícia publicada em: http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=3769

sábado, 11 de outubro de 2014

Ionosfera Terrestre

Nós aprendemos no colégio que a atmosfera terrestre é dividida em camadas, sendo essas a Troposfera, Estratosfera, Mesosfera, Termosfera e Exosfera, como podemos ver na Figura 1. Essa classificação é feita segundo a variação da temperatura com a altitude. Na troposfera a temperatura da atmosfera diminui até um ponto onde há uma inversão, tropopausa, e a temperatura aumenta, separando a troposfera da estratosfera. Na estratosfera a temperatura aumenta até a estratopausa, onde a temperatura deixa de aumentar e passa a diminuir novamente na mesosfera, até a mesopausa, onde mais uma vez a temperatura deixa de diminuir e passa a aumentar na termosfera. A exosfera fica acima de 1000 km de altitude, onde é definido que não há mais atmosfera.

Figura 1: Camadas da Atmosfera Terrestre segundo a variação de temperatura.

Uma outra classificação da atmosfera terrestre é feita quando utiliza-se como referência a quantidade de íons presentes em relação a altitude. Essa região da atmosfera rica em íons é conhecida como Ionosfera. Apesar de não ser tão conhecida como a classificação descrita anteriormente, a ionosfera é muito importante, pois devido a separação das cargas elétricas dos átomos da atmosfera pela interação da radiação solar, cria-se correntes elétricas que tanto auxiliam como guias de ondas, permitindo que sinais de rádio sejam transmitidos a longas distâncias, como ilustrado pela Figura 2, quanto perturbam os sinais de satélites de telecomunicações, GPS, entre outros, causando espalhamento no sinal ou mesmo sua perda momentânea.

Figura 2: Ionosfera como guia de onda de rádio. Fonte: http://apollo.lsc.vsc.edu/classes/met130/notes/chapter1/ion2.html.

Na Figura 3 podemos ver dois perfis da densidade de plasma em relação a altitude. O perfil azul mostra a densidade de íons durante o dia, onde podemos identificar três camadas, D, E e F, que é subdividida em F1 e F2. O perfil vermelho mostra a densidade eletrônica a noite, onde somente permanece a camada F. Isso ocorre porque o que ioniza a atmosfera é a radiação solar, a noite, como não há radiação solar, os íons das camadas D e E se recombinam, tornando essas camadas neutras. Já na camada F, a quantidade de íons é tanta que durante a noite não há tempo para que todos os íons se recombinem, restando uma boa quantidade de átomos ionizados. Mais detalhes das características de cada uma das camadas da ionosfera serão tema de um novo post.

Figura 3: Perfis da densidade eletrônica na atmosfera terrestre em função da altitude durante o dia (curva azul) e a noite (curva vermelha). Fonte: www.astrosurf.com/luxorion/Radio/ionosphere-plasma-density.

A Ionosfera é uma região da atmosfera fascinante, que necessita ser entendida para que os efeitos do Clima Espacial possam ser minimizados. Essa camada da atmosfera sofre influência direta do Sol e nós somos afetados uma vez que os sinais das ondas eletromagnéticas dos sistemas de telecomunicações, segurança, GPS, atravessam essa camada e qualquer distúrbio presente nela pode afetar esses sistemas, fazendo com que tenhamos absorção de ondas HF, interferências em sinais de rádio e TV, cintilações nos sinais de satélites causando atrasos ou mesmo a perda do sinal de GPS, o que pode causar problemas graves, uma vez que muitos aviões são guiados por GPS. Esses efeitos ionosféricos estão esquematicamente ilustrados na Figura 4.

Figura 4: Ilustração esquemática dos efeitos ionosféricos em nossa vida cotidiana. Fonte: http://www.astrosurf.com/luxorion/Radio/ionospheric-effects.


sábado, 4 de outubro de 2014

Anomalia Magnética da América do Sul

Como todos nós sabemos, a Terra possui um campo magnético, e esse campo é utilizado há muito tempo pelos navegadores, devido à sua capacidade de orientar a agulha de bússolas, mostrando onde fica o Norte e o Sul. Para esse fim, as variações do campo magnético terrestre não tem muita importância, mas temos que estar sempre atentos, pois outra finalidade do campo geomagnético é nos proteger de partículas energéticas de origem solar. 

Existem regiões da Terra onde as partículas solares possuem caminho livre, ou seja, elas precipitam na atmosfera terrestre causando as auroras, um dos mais bonitos fenômenos físicos que existem, como pode ser visto na Figura 1 a fotografia de uma aurora. Esse caminho livre das partículas ocorre, pois nas regiões polares o campo magnético terrestre é vertical, e como as partículas eletricamente carregadas orbitam as linhas do campo magnético, elas precipitam diretamente na a atmosfera terrestre.

Figura 1: Fotografia de uma aurora. FONTE: http://atmosphericphenomena.com/gallery-aurora-borealis/

Na região equatorial, o campo magnético terrestre é basicamente horizontal, possuindo inclinação zero em seu equador, chamado Equador Magnético Terrestre. Esse componente horizontal do campo magnético dificulta a entrada de partículas energéticas, impedindo que elas atinjam a atmosfera terrestre de forma significante para causar um fenômeno parecido com as auroras.

O campo magnético terrestre não é estático e muito menos simétrico, e essa assimetria faz com que exista uma "anomalia", exatamente na região da América do Sul, tomando grande parte do território Brasileiro. Essa anomalia é conhecida como Anomalia Magnética da América do Sul (AMAS). A AMAS é caracterizada por ser a região da magnetosfera terrestre com menor intensidade total, como podemos ver na animação da Figura 2, que mostra a evolução da anomalia ao longo dos anos.

Figura 2:Animação da evolução temporal da AMAS desde 1600 até 2000.

No sentido de conhecer melhor o comportamento do campo magnético terrestre, com ênfase especial à região da AMAS, foi lançado em 19 de junho de 2014 o primeiro satélite universitário brasileiro, desenvolvido através da cooperação entre o Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais - CRS/INPE-MCTI e a Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Esse satélite possui como uma de suas cargas úteis, um magnetômetro, cuja finalidade é estudar o campo magnético terrestre. Mais informações sobre o NanosatC-BR1 podem ser encontradas no link http://www.inpe.br/crs/nanosat/.

Acredita-se que as partículas energéticas que estão aprisionadas no campo geomagnético chegam mais próximo da atmosfera que nas outras regiões que possuem grande componente horizontal do campo. Isso implica que os satélites, quando passam pela AMAS, podem sofrer algum tipo de influência dessas partículas, podendo até ser desativados devido a alguma radiação ionizante causada por essas partículas. A Figura 3 mostra os locais onde ocorreram upsets de memória sofridos pelos circuitos do satélite UOSAT-2, e na região da AMAS é bastante evidente a ocorrência desses eventos de falhas.

Figura 3: Mapa de upset de memória do satélite UOSAT-2. FONTE: NOAA/NGDC Boulder.

Estudos mais aprofundados devem ser realizados para entendermos quais são as reais consequências da precipitação de partículas na AMAS, se essas partículas podem afetar de forma significativa a vida dos tripulantes de aviões que voam frequentemente nessa região, e o NanosatC-BR1, é uma ótima ferramenta para estudarmos o campo geomagnético a 600km de altitude. Para complementar as informações acerca do campo geomagnético terrestre, a rede de magnetômetros do EMBRACE/INPE conta hoje com 9 magnetômetros instalados na América do Sul, como pode ser visto no link http://www2.inpe.br/climaespacial/MainViewer/faces/mag_deltah.xhtml.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O primeiro satélite cubesat brasileiro foi lançado e opera com sucesso

Mais um grande feito brasileiro na área de ciência e tecnologia espacial para comemorarmos, em meio à copa do mundo de futebol:


Foi lançado, com sucesso, o primeiro Nano Satélite brasileiro, desenvolvido pelo INPE e pela UFSM. A estação terrena de Santa Maria (RS) recebe dados do NanosatC-BR1 há mais de três dias.



O desenvolvimento desse satélite teve a participação de estudantes da UFSM, que desenvolvem seus projetos de iniciação científica e tecnológica no Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais - CRS/INPE - MCTI. A parceria entre o INPE e a UFSM permitiu que os estudantes atuassem diretamente em todas as fases: especificação, desenvolvimento e construção do NanosatC-BR1, agora eles estão atuando na sua operação e recepção dos dados.

O NanosatC-BR1 foi lançado às 16h11 (horário de Brasília) do dia 19 de junho de 2014 da base de Yasny, na Rússia, pelo foguete Dnepr. Além do cubesat brasileiro, na mesma missão foram colocados em órbita mais de 30 nanosats de vários países, cujo sucesso do lançamento foi comemorado por todos. Os pesquisadores do INPE, Otávio Durão e Nelson Schuch, estavam na base russa para acompanhar o lançamento, juntamente com dois estudantes da UFSM que participaram do projeto, Leonardo Zavareze da Costa e Tális Piovesan.

Delegação Brasileira que acompanhou na Rússia o lançamento do NanosatC-BR1 (Tális Piovesan, Otávio Durão, Nelson Schuch e Leonardo Zavareze). 


No site http://www.inpe.br/crs/nanosat/ você poderá encontrar todas as características e funcionalidades do cubesat brasileiro.


Na reportagem do jornal local, Diário de Santa Maria, líderes locais comemoraram e deram seu depoimento sobre esse feito histórico, que tomo a liberdade de transcrever da matéria feita pela jornalista Juliana Gelatti



Veja abaixo a opinião de líderes locais sobre os efeitos do lançamento do NanoSatC-BR1 na cidade, na região e no país. As pessoas consultadas fazem parte do Comitê do Polo de Defesa de Santa Maria, grupo que discute alternativas para o desenvolvimento industrial e tecnológico da região com base nas oportunidades geradas pelos investimentos em defesa.
"Vejo como um grande avanço. Santa Maria vem fazendo um trabalho bem diversificado para se desenvolver. Com o lançamento do satélite, com a participação da SMDH, do Inpe, essas pesquisas e resultados grandiosos, que colocam Santa Maria no topo de diversas áreas. É muito bom, pois a cidade já é conhecida nos últimos tempos fora daqui e, agora, esse lançamento, que é pioneiro no Brasil e tem custos bastante reduzidos perto dos satélites tradicionais, a cidade ganha ainda mais projeção Os custos baixos permitem que os pesquisadores experimentem mais e são um estímulo para que mais pesquisadores se mobilizem em pesquisas voltadas à aplicação efetiva. Além disso, ganhamos mais profissionais capacitados para trabalhar com essa tecnologia de ponta."Vilson Serro, diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm)
"É mais um fato que evidencia o trabalho que a cidade vem desenvolvendo e crescendo, na tecnologia, nesse caso voltada para a aeroespacial, mas também em relação à defesa. Um satélite pode ser aplicado em várias funções. É importante para consolidar a vocação de Santa Maria, a visibilidade que a cidade está buscando, para entrar no mercado da alta tecnologia, para atrair novas empresas. Temos de criar fatos positivos que nos deem visibilidade, para embasar a nossa busca por empresas e desenvolvimento."Luiz Fernando do Couto Pacheco, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism)
Primeiramente, quero cumprimentar toda a equipe pelo êxito já alcançado até agora, nesta que é uma das mais marcantes missões da UFSM e dos seus parceiros. A UFSM se enche de orgulho por esse feito histórico. Acompanho as notícias com expectativa e tranquilidade, no momento que temos construído tantas boas notícias para o Brasil. Isso demonstra uma parceria que a UFSM pode mais, se conseguir construir parcerias, como tem feito. É um dos primeiros satélites universitários, com a participação de estudantes e pesquisadores da UFSM e de outras instituições. Representa um marco histórico para a UFSM e para o Estado, pela parceria com o governo do Estado e a Finep, e isto contribui de maneira muito importante para que esse polo aeroespacial venha para Santa Maria se instalar aqui. São contribuições com repercussões muito profundas no futuro da região.Paulo Afonso Burmann, Reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
"Muito poucos países no mundo conseguem lançar um satélite. O Brasil conseguiu, com três cargas úteis. Um deles é um chip da SMDH, cujos testes no espaço vão validar uma série de conceitos em termos de circuito integrado resistente à radiação. Nós fizemos esse chip e estamos montando uma biblioteca (de componentes eletrônicos) que permitirá gerar muitos outros chips que apenas dois órgãos internacionais possuem: a Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA). Somente eles produzem esses chips e dificilmente vendem. O nosso chip já tem dado sinais de "vida". Já passou pelo Brasil, Santa Maria, São Paulo, Holanda e está funcionando. Isso tudo é importante para o Brasil."João Batista Martins, coordenador da Santa Maria Design House (SMDH)
"É um baita dum passo ter uma tecnologia nacional, coincidentemente feita na UFSM, mas estou falando mais de Brasil. É um projeto audacioso do Inpe, mais o Grupo de Microeletrônica (Micro), embarcar  tecnologia local num projeto brasileiro e lançar numa base russa, já que não temos como fazer isso aqui por enquanto. É o primeiro passo para esses pesquisadores entenderem como se comporta essa tecnologia lá, na estratosfera, e o que é necessário melhorar para os próximos satélites. Vai embasar nossos pesquisadores nacionais para dar o próximo passo, para desenvolver satélites aqui, para a nossa tecnologia andar com pernas brasileiras. É um passo primário para o país começar a subir a escada do desenvolvimento. Que bom que isso foi feito aqui. Tomara que a população entenda que isso não é apenas para indústria de defesa, mas para as telecomunicações. Quem sabe temos, no futuro, o nosso próprio GPS? O que possibilitou criar esse satélite nos abre um monte de possibilidades. E não é mais projeto, é realidade. É parar de fazer discurso e começar a entregar. Sabemos há muito tempo que temos bons engenheiros, empresários, e muitos vão embora. E os que ficaram, não vão fazer nada? Esses pesquisadores conseguiram, com tempo, dinheiro e pessoas, fazer algo funcionar, sem precisar sair daqui. E agora Santa Maria e o Rio Grande do Sul se consolidam ainda mais para ter o polo espacial aqui, e Santa Maria se torna a referência para a área."
Cristiano da Silveira, gestor executivo do Santa Maria Tecnoparque
"A importância disso é que coloca Santa Maria em uma posição destacada da pesquisa espacial brasileira. E isso se incorpora nessa questão do Polo de Defesa, de Santa Maria ser uma referência tecnológica. Dá a dimensão de nossa universidade. Vai abrindo caminhos, é uma construção. Tem gente que acha que não há inteligência fora do eixo Rio-São Paulo. Então, estamos todos de parabéns. Em especial os professores e alunos envolvidos."
Cezar Schirmer, prefeito de Santa Maria

terça-feira, 3 de junho de 2014

Tempestades Geomagnéticas

A cada dia são lançados no mercado mundial novos equipamentos eletrônicos, com a tecnologia mais avançada que existe. Há poucos anos, os telefones celulares serviam apenas para fazer chamadas, mas com o desenvolvimento tecnológico, as ligações ficaram em segundo plano. Um smartphone possui várias funcionalidades e sensores, dentre eles destaco o GPS, que nos ajuda muito a se localizar e facilita a vida quando vamos em um local desconhecido.

Com essa dependência desses equipamentos, temos que prestar atenção cada vez mais no que acontece no espaço, em torno da Terra, mais precisamente em uma região chamada de Meio Interplanetário, e uma atenção ainda mais especial ao Sol. Como comentei no post "O Sol", nossa estrela é extremamente dinâmica e além do calor, da luz, ela emite partículas, e eventualmente estruturas compostas de plasma, que podem atingir a Terra. Mas não precisamos nos preocupar, estamos protegidos pelo campo magnético terrestre. A Figura 1 mostra uma ilustração esquemática do Sol com algumas de suas estruturas externas, e uma Ejeção de Massa Coronal ("Coronal Mass Ejection" - CME) deslocando-se em direção à Terra, que é apresentada com seu campo magnético.

Figura 1: Ilustração esquemática do Sol e uma Ejeção de Massa Coronal  na direção da Terra.

Um dos principais fenômenos da relação Sol-Meio Interplanetário-Terra é conhecido por Tempestade Geomagnética, tendo  como causa principal as CMEs. As tempestades geomagnéticas ocorrem quando há uma interconexão dos campos magnéticos da Terra e do Meio Interplanetário, devido à uma condição especial do campo interplanetário, cuja explicação detalhada foge do escopo desse blog. Durante esse processo, chamado de Reconexão Magnética, as partículas (prótons elétrons e íons mais pesados) constituintes do vento solar, entram na magnetosfera Terrestre, povoando uma região da magnetosfera chamada de Corrente de Anel. A corrente de anel pré-existente recebe um grande aporte de partículas que, devido ao seu movimento em torno da Terra, intensificam a corrente elétrica, gerando consequentemente um campo magnético induzido, com sentido oposto ao campo magnético intrínseco da Terra. Os equipamentos que medem o campo magnético terrestre (magnetômetros) irão detectar esse campo magnético induzido, e nós poderemos observar a ocorrência e intensidade de uma tempestade geomagnética através do Índice Geomagnético Dst ("Disturbance Storm Time" - Dst; http://www2.inpe.br/climaespacial/pt/glossario/index#i9). Na Figura 2 podemos observar o gráfico do índice Dst durante a ocorrência de uma tempestade geomagnética.

Figura 2: Gráfico do índice Dst durante a ocorrência de uma tempestade geomagnética intensa.

No gráfico da Figura 2, podemos observar que na primeira região hachurada (cinza), há um aumento na intensidade do campo magnético, que ocorre devido a compressão que a CME causa quando atinge o campo magnético da Terra, em seguida, na região destacada em cinza escuro, podemos observar um acentuado decréscimo no campo magnético. Esse decréscimo é chamado de fase principal da tempestade, é exatamente nesse momento que a corrente de anel foi intensificada pelas partículas do vento solar, e o "tamanho" desse decréscimo é que indica a intensidade da tempestade: -50nT > Dst > -100nT = Tempestade Moderada (pico entre as linhas horizontais verde e amarela); -100nT > Dst > -250nT = Tempestade Intensa (pico entre as linhas horizontais amarela e vermelha); e Dst < -250nT = Tempestade Superintensa (pico abaixo da linha horizontal vermelha).

Existem vários esforços da comunidade científica para realizar a previsão das tempestades geomagnéticas, ou mesmo para a previsão das estruturas solares que podem causar tempestade geomagnética. O Brasil está engajado nesse propósito, e os produtos desenvolvidos podem ser encontrados no site do Estudo e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial - EMBRACE (http://www2.inpe.br/climaespacial/).

Portanto, quando estiver utilizando GPS, Smartphone, ou qualquer outro equipamento que dependa de sinais de satélites, e esses equipamentos apresentarem algum tipo de perda de sinal momentânea, lembrem-se, pode ser que uma tempestade geomagnética esteja ocorrendo, por isso sugiro que vocês acompanhem os boletins e sigam o EMBRACE no twitter (@climaespacial) para saber se o problema observado está associado à ocorrência de algum evento do clima espacial .

quinta-feira, 13 de março de 2014

Campo Geomagnético

No último post falei um pouco a respeito do Vento Solar, que trata-se de partículas energéticas emitidas constantemente pelo Sol. À primeira vista essas partículas poderiam causar sérios problemas aqui na superfície da Terra, mas felizmente existe o Campo Geomagnético que nos protege dessas partículas, e até mesmo de outras partículas com energia ainda maior que as do Sol, e que são originadas de outras fontes.

Todos sabemos que a Terra comporta-se como se fosse um grande ímã, possuindo um campo magnético intrínseco que é originado em seu centro. Para ser mais preciso, a principal teoria da formação do campo magnético terrestre diz que o núcleo externo da Terra é composto de metal fluido, e o seu movimento faz com que ele se comporte como um dínamo, gerando o campo magnético.

Esse campo magnético nos protege das partículas do vento solar, mas ao mesmo tempo sofre a ação dessas partículas, tendo seu formato definido por essa ação externa do vento solar, como pode ser visto na Figura 1.

Figura 1: Formato do Campo Geomagnético devido ã interação do vento solar com o mesmo.
Fonte:http://thewatchers.adorraeli.com/wp-content/uploads/2011/11/2012_Magnetic_field__Solar_Cycle.jpg

O vento solar "empurra"o campo magnético terrestre no lado diurno e o estende no lado noturno, formando a cauda magnética. Outra estrutura que forma-se na frente da magnetosfera é uma onda de choque, chamada, em inglês, de "Bow Shock", pois o vento solar é emitido pelo Sol com velocidade maior que as velocidades características do meio interplanetário, que por se tratar de um plasma, existem três velocidades características: a velocidade de Alfven, a velocidade magnetosônica e a velocidade do som. 

Outras estruturas se formam no interior da magnetosfera, como os cinturões de radiação. Esses cinturões são formados por partículas energéticas que ficam aprisionadas no campo magnético devido ao seu formato. Esses cinturões merecem um post dedicado para uma descrição mais detalhada, que virá em breve.

As partículas do vento solar, por possuírem baixa energia, não conseguem entrar no campo geomagnético, a menos que um fenômeno que ocorre em condições especiais do meio interplanetário ocorra. Esse fenômeno é chamado de reconexão magnética, que causa as tempestades geomagnéticas, que também será protagonista de outro post.

O campo magnético terrestre não é estático. A Figura 2 apresenta uma animação mostrando a evolução do campo geomagnético ao longo do tempo. Nessa animação quatro áreas se destacam, sendo duas delas os pólos magnéticos (Norte do Canadá e região Antártica) e as outras duas ficam na Rússia, região de grande intensidade do campo e na América do Sul, região de menor intensidade do campo geomagnético. Essa última região é conhecida como Anomalia Magnética da América do Sul (AMAS), que será assunto de um post exclusivo.

Figura 2: Animação da evolução do campo total estimado pelo modelo de campo geomagnético IGRF. Fonte: http://wdc.kugi.kyoto-u.ac.jp/igrf/anime/

Podemos todos ficar tranquilos, pois estamos protegidos das partículas do vento solar, das partículas mais energéticas emitidas pelo sol - SEPs - e até mesmo das partículas dos raios cósmicos que possuem energias bastante altas. E, além de tudo, esse campo magnético nos auxilia desde as grandes navegações orientando as bússolas e guiando nossos navegadores.