segunda-feira, 23 de junho de 2014

O primeiro satélite cubesat brasileiro foi lançado e opera com sucesso

Mais um grande feito brasileiro na área de ciência e tecnologia espacial para comemorarmos, em meio à copa do mundo de futebol:


Foi lançado, com sucesso, o primeiro Nano Satélite brasileiro, desenvolvido pelo INPE e pela UFSM. A estação terrena de Santa Maria (RS) recebe dados do NanosatC-BR1 há mais de três dias.



O desenvolvimento desse satélite teve a participação de estudantes da UFSM, que desenvolvem seus projetos de iniciação científica e tecnológica no Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais - CRS/INPE - MCTI. A parceria entre o INPE e a UFSM permitiu que os estudantes atuassem diretamente em todas as fases: especificação, desenvolvimento e construção do NanosatC-BR1, agora eles estão atuando na sua operação e recepção dos dados.

O NanosatC-BR1 foi lançado às 16h11 (horário de Brasília) do dia 19 de junho de 2014 da base de Yasny, na Rússia, pelo foguete Dnepr. Além do cubesat brasileiro, na mesma missão foram colocados em órbita mais de 30 nanosats de vários países, cujo sucesso do lançamento foi comemorado por todos. Os pesquisadores do INPE, Otávio Durão e Nelson Schuch, estavam na base russa para acompanhar o lançamento, juntamente com dois estudantes da UFSM que participaram do projeto, Leonardo Zavareze da Costa e Tális Piovesan.

Delegação Brasileira que acompanhou na Rússia o lançamento do NanosatC-BR1 (Tális Piovesan, Otávio Durão, Nelson Schuch e Leonardo Zavareze). 


No site http://www.inpe.br/crs/nanosat/ você poderá encontrar todas as características e funcionalidades do cubesat brasileiro.


Na reportagem do jornal local, Diário de Santa Maria, líderes locais comemoraram e deram seu depoimento sobre esse feito histórico, que tomo a liberdade de transcrever da matéria feita pela jornalista Juliana Gelatti



Veja abaixo a opinião de líderes locais sobre os efeitos do lançamento do NanoSatC-BR1 na cidade, na região e no país. As pessoas consultadas fazem parte do Comitê do Polo de Defesa de Santa Maria, grupo que discute alternativas para o desenvolvimento industrial e tecnológico da região com base nas oportunidades geradas pelos investimentos em defesa.
"Vejo como um grande avanço. Santa Maria vem fazendo um trabalho bem diversificado para se desenvolver. Com o lançamento do satélite, com a participação da SMDH, do Inpe, essas pesquisas e resultados grandiosos, que colocam Santa Maria no topo de diversas áreas. É muito bom, pois a cidade já é conhecida nos últimos tempos fora daqui e, agora, esse lançamento, que é pioneiro no Brasil e tem custos bastante reduzidos perto dos satélites tradicionais, a cidade ganha ainda mais projeção Os custos baixos permitem que os pesquisadores experimentem mais e são um estímulo para que mais pesquisadores se mobilizem em pesquisas voltadas à aplicação efetiva. Além disso, ganhamos mais profissionais capacitados para trabalhar com essa tecnologia de ponta."Vilson Serro, diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm)
"É mais um fato que evidencia o trabalho que a cidade vem desenvolvendo e crescendo, na tecnologia, nesse caso voltada para a aeroespacial, mas também em relação à defesa. Um satélite pode ser aplicado em várias funções. É importante para consolidar a vocação de Santa Maria, a visibilidade que a cidade está buscando, para entrar no mercado da alta tecnologia, para atrair novas empresas. Temos de criar fatos positivos que nos deem visibilidade, para embasar a nossa busca por empresas e desenvolvimento."Luiz Fernando do Couto Pacheco, presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria (Cacism)
Primeiramente, quero cumprimentar toda a equipe pelo êxito já alcançado até agora, nesta que é uma das mais marcantes missões da UFSM e dos seus parceiros. A UFSM se enche de orgulho por esse feito histórico. Acompanho as notícias com expectativa e tranquilidade, no momento que temos construído tantas boas notícias para o Brasil. Isso demonstra uma parceria que a UFSM pode mais, se conseguir construir parcerias, como tem feito. É um dos primeiros satélites universitários, com a participação de estudantes e pesquisadores da UFSM e de outras instituições. Representa um marco histórico para a UFSM e para o Estado, pela parceria com o governo do Estado e a Finep, e isto contribui de maneira muito importante para que esse polo aeroespacial venha para Santa Maria se instalar aqui. São contribuições com repercussões muito profundas no futuro da região.Paulo Afonso Burmann, Reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
"Muito poucos países no mundo conseguem lançar um satélite. O Brasil conseguiu, com três cargas úteis. Um deles é um chip da SMDH, cujos testes no espaço vão validar uma série de conceitos em termos de circuito integrado resistente à radiação. Nós fizemos esse chip e estamos montando uma biblioteca (de componentes eletrônicos) que permitirá gerar muitos outros chips que apenas dois órgãos internacionais possuem: a Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA). Somente eles produzem esses chips e dificilmente vendem. O nosso chip já tem dado sinais de "vida". Já passou pelo Brasil, Santa Maria, São Paulo, Holanda e está funcionando. Isso tudo é importante para o Brasil."João Batista Martins, coordenador da Santa Maria Design House (SMDH)
"É um baita dum passo ter uma tecnologia nacional, coincidentemente feita na UFSM, mas estou falando mais de Brasil. É um projeto audacioso do Inpe, mais o Grupo de Microeletrônica (Micro), embarcar  tecnologia local num projeto brasileiro e lançar numa base russa, já que não temos como fazer isso aqui por enquanto. É o primeiro passo para esses pesquisadores entenderem como se comporta essa tecnologia lá, na estratosfera, e o que é necessário melhorar para os próximos satélites. Vai embasar nossos pesquisadores nacionais para dar o próximo passo, para desenvolver satélites aqui, para a nossa tecnologia andar com pernas brasileiras. É um passo primário para o país começar a subir a escada do desenvolvimento. Que bom que isso foi feito aqui. Tomara que a população entenda que isso não é apenas para indústria de defesa, mas para as telecomunicações. Quem sabe temos, no futuro, o nosso próprio GPS? O que possibilitou criar esse satélite nos abre um monte de possibilidades. E não é mais projeto, é realidade. É parar de fazer discurso e começar a entregar. Sabemos há muito tempo que temos bons engenheiros, empresários, e muitos vão embora. E os que ficaram, não vão fazer nada? Esses pesquisadores conseguiram, com tempo, dinheiro e pessoas, fazer algo funcionar, sem precisar sair daqui. E agora Santa Maria e o Rio Grande do Sul se consolidam ainda mais para ter o polo espacial aqui, e Santa Maria se torna a referência para a área."
Cristiano da Silveira, gestor executivo do Santa Maria Tecnoparque
"A importância disso é que coloca Santa Maria em uma posição destacada da pesquisa espacial brasileira. E isso se incorpora nessa questão do Polo de Defesa, de Santa Maria ser uma referência tecnológica. Dá a dimensão de nossa universidade. Vai abrindo caminhos, é uma construção. Tem gente que acha que não há inteligência fora do eixo Rio-São Paulo. Então, estamos todos de parabéns. Em especial os professores e alunos envolvidos."
Cezar Schirmer, prefeito de Santa Maria

terça-feira, 3 de junho de 2014

Tempestades Geomagnéticas

A cada dia são lançados no mercado mundial novos equipamentos eletrônicos, com a tecnologia mais avançada que existe. Há poucos anos, os telefones celulares serviam apenas para fazer chamadas, mas com o desenvolvimento tecnológico, as ligações ficaram em segundo plano. Um smartphone possui várias funcionalidades e sensores, dentre eles destaco o GPS, que nos ajuda muito a se localizar e facilita a vida quando vamos em um local desconhecido.

Com essa dependência desses equipamentos, temos que prestar atenção cada vez mais no que acontece no espaço, em torno da Terra, mais precisamente em uma região chamada de Meio Interplanetário, e uma atenção ainda mais especial ao Sol. Como comentei no post "O Sol", nossa estrela é extremamente dinâmica e além do calor, da luz, ela emite partículas, e eventualmente estruturas compostas de plasma, que podem atingir a Terra. Mas não precisamos nos preocupar, estamos protegidos pelo campo magnético terrestre. A Figura 1 mostra uma ilustração esquemática do Sol com algumas de suas estruturas externas, e uma Ejeção de Massa Coronal ("Coronal Mass Ejection" - CME) deslocando-se em direção à Terra, que é apresentada com seu campo magnético.

Figura 1: Ilustração esquemática do Sol e uma Ejeção de Massa Coronal  na direção da Terra.

Um dos principais fenômenos da relação Sol-Meio Interplanetário-Terra é conhecido por Tempestade Geomagnética, tendo  como causa principal as CMEs. As tempestades geomagnéticas ocorrem quando há uma interconexão dos campos magnéticos da Terra e do Meio Interplanetário, devido à uma condição especial do campo interplanetário, cuja explicação detalhada foge do escopo desse blog. Durante esse processo, chamado de Reconexão Magnética, as partículas (prótons elétrons e íons mais pesados) constituintes do vento solar, entram na magnetosfera Terrestre, povoando uma região da magnetosfera chamada de Corrente de Anel. A corrente de anel pré-existente recebe um grande aporte de partículas que, devido ao seu movimento em torno da Terra, intensificam a corrente elétrica, gerando consequentemente um campo magnético induzido, com sentido oposto ao campo magnético intrínseco da Terra. Os equipamentos que medem o campo magnético terrestre (magnetômetros) irão detectar esse campo magnético induzido, e nós poderemos observar a ocorrência e intensidade de uma tempestade geomagnética através do Índice Geomagnético Dst ("Disturbance Storm Time" - Dst; http://www2.inpe.br/climaespacial/pt/glossario/index#i9). Na Figura 2 podemos observar o gráfico do índice Dst durante a ocorrência de uma tempestade geomagnética.

Figura 2: Gráfico do índice Dst durante a ocorrência de uma tempestade geomagnética intensa.

No gráfico da Figura 2, podemos observar que na primeira região hachurada (cinza), há um aumento na intensidade do campo magnético, que ocorre devido a compressão que a CME causa quando atinge o campo magnético da Terra, em seguida, na região destacada em cinza escuro, podemos observar um acentuado decréscimo no campo magnético. Esse decréscimo é chamado de fase principal da tempestade, é exatamente nesse momento que a corrente de anel foi intensificada pelas partículas do vento solar, e o "tamanho" desse decréscimo é que indica a intensidade da tempestade: -50nT > Dst > -100nT = Tempestade Moderada (pico entre as linhas horizontais verde e amarela); -100nT > Dst > -250nT = Tempestade Intensa (pico entre as linhas horizontais amarela e vermelha); e Dst < -250nT = Tempestade Superintensa (pico abaixo da linha horizontal vermelha).

Existem vários esforços da comunidade científica para realizar a previsão das tempestades geomagnéticas, ou mesmo para a previsão das estruturas solares que podem causar tempestade geomagnética. O Brasil está engajado nesse propósito, e os produtos desenvolvidos podem ser encontrados no site do Estudo e Monitoramento Brasileiro do Clima Espacial - EMBRACE (http://www2.inpe.br/climaespacial/).

Portanto, quando estiver utilizando GPS, Smartphone, ou qualquer outro equipamento que dependa de sinais de satélites, e esses equipamentos apresentarem algum tipo de perda de sinal momentânea, lembrem-se, pode ser que uma tempestade geomagnética esteja ocorrendo, por isso sugiro que vocês acompanhem os boletins e sigam o EMBRACE no twitter (@climaespacial) para saber se o problema observado está associado à ocorrência de algum evento do clima espacial .